Teoria Geral de Sistemas Prof. André Luís Duarte 1 – Introdução a Teoria Geral de Sistemas Durante nossa vida secular, somos colocados diante de uma grande quantidade de conhecimento. Muitos destes conhecimentos são trabalhados de forma isolada, e a muitos de nós, parecia que eram realmente independentes e que só poderiam ser explicados por suas características físicas, e pelos eventos relacionados a eles. Depois de muito tempo, vemos que isto era, na realidade, um artifício dos nossos mestres para facilitar o estudo. Podemos ver hoje, que muitos sistemas não podem ser explicados isoladamente. Muitas vezes não conseguimos entender um sistema grande analisando somente suas partes menores. Também, não poderemos concluir sobre uma parte específica de um sistema sem ter conhecido o funcionamento do todo. Somos então colocados diante de uma nova realidade, onde temos que buscar ferramentas que nos possibilite a aprender conceitos isolados, vendo sua aplicabilidade presente e futura. O termo Teoria Geral de Sistemas foi cunhado pelo biólogo alemão chamado Ludwig Von Bertalanfy. Seus estudos entre 1950 e 1968 o levaram a criticar a visão de que o mundo se divide em áreas como a física, biologia, química, tecnologia, psicologia, sociologia, etc. Ludwig pregava que a natureza não estava dividida em nenhuma destas partes, ou seja, que para explicarmos algo sobre um sistema na natureza, deveríamos analisar todas as partes em conjunto, pois muitos princípios e conclusões existentes em uma ciência, também eram válidos para outras. A partir daí, surgiu a Teoria Geral de Sistemas que não tinha a pretensão de buscar soluções práticas, mas somente teorias conceituais que possam criar condições de aplicação na realidade que se fundamenta na experiência prática. Platão na alegoria da caverna nos mostrou como é impossível aprendermos tudo. Que através de nossas limitações humanas, temos que buscar ferramentas ou mecanismos que nos auxilie a ter uma visão mais completa possível das coisas. Que temos que trabalhar com modelos mais simples antes de querermos visualizá-lo inserido no todo. Precisamos entender este modelo, conhecer suas características, poder enxergar de alguma forma seus princípios e tirar conclusões antes de entender seu funcionamento no sistema maior. Um ótimo exemplo é quando analisamos a estrutura da água e a sua utilização. Sabemos que a água
é formada por uma molécula com dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio H O
pegarmos uma utilização comum da água, a saber, apagar fogo, não podemos explicar esta propriedade, simplesmente analisando seus componentes, pois o hidrogênio é um gás inflamável e o oxigênio também. Quando analisamos os problemas através de modelos, podemos enxergar melhor possíveis soluções e conclusões. Nós, seres humanos, trabalhamos melhor desta forma. O computador também necessita de modelos que possam ser construídos computacionalmente, para que fique viável seu estudo.
1.1 – Fenômeno da Inferência Vimos uma breve introdução sobre a TGS. Vamos a partir deste ponto, trabalhar alguns conceitos importantes que irão nos dar subsídios para entendermos as características que regem a TGS. Inicialmente vamos conhecer o fenômeno da inferência. Este é um fenômeno interessante existente em nós seres humanos. Nossa mente pode ser “enganada” de forma a criar, ou inferir, abstrações, fenômenos, ou seja, muito do que vemos, é nossa mente que cria. Um exemplo disto é o que ocorre quando vemos imagens do tipo gif, nossa mente constrói o movimento, o que temos na nossa frente são imagens estáticas passadas de uma determinada forma com certa velocidade, e o resto é nossa mente que constrói. Não existe realmente movimento naquelas imagens. Outro exemplo interessante é a capacidade de nossa mente em criar abstrações. Sabemos que a idéia de ponto, reta e plano, são abstrações da geometria. Nenhuma delas existe realmente, mas seria impossível construir prédios, carros, computadores sem a ajuda delas. As matemática possui uma fonte muito grande de exemplos destas abstrações. Podemos ver muitos
http://www.socsci.uci.edu/cogsci/personnel/hoffman/hoffman.htm
l. Podemos aplicar estes conhecimentos na construção de nossos sistemas, mais especificamente, suas interfaces, a fim de impedir que os usuários de nossos sistemas sejam confundidos por alguma construção ou combinação de cores e objetos na hora de utiliza
Figura1.1 – Ponto, reta e plano.
Para finalizar, colocamos outro exemplo de inferência, na construção de objetos em três dimensões.
Figura1.2 – Cubos de Necker.
Note que nossa mente cria este objeto, não podemos construir de forma real um cubo em uma estrutura plana. Nossa mente é capaz de fazer isto e muito mais. A capacidade de inferência possibilita criarmos objetos reais, em modelos que não são reais, mas que permitem observarmos características e até estudarmos soluções para eventuais necessidades. Pense nos sistemas, nos jogos e no computador sem esta capacidade da mente humana.
1.2 – Fenômeno da Emergência O fenômeno da emergência é muito comum na natureza. Podemos vê-lo, por exemplo, ao analisarmos o corpo humano. Há fenômenos que brotam naturalmente a partir de certas condições que a favoreçam a isto. Por exemplo, há algo comum em todas as formas de vida, todas são formadas de células e são capazes de se reproduzirem e de se especializarem, porém, estas células que formam os seres vivos são formadas por átomos que se organizam para formarem moléculas e estes não possuem a capacidade de se reproduzirem.
O que chama a nossa atenção nesta situação, é que a célula possui uma propriedade que não é vista nas suas partes menores, ou seja, houve a emergência de uma propriedade, quando alguns componentes se uniram em uma situação favorável. Podemos relembrar o exemplo da água que possui a propriedade de apagar fogo, quando suas partes não possuem esta propriedade. Disto podemos tirar uma questão importante para nosso estudo, como podemos estudar um sistema como um todo, analisando somente as propriedades das partes que compõe este sistema? Ludwig percebeu isto e propôs que seria interessante se houvesse uma disciplina onde a questão do todo (sistema) fosse abordado com mais ênfase, e que determinadas características observadas em diversos sistemas pudessem ser tratadas nas mais diversas áreas do conhecimento. Daí o objetivo da TGS é a formulação de princípios válidos para os “sistemas” em geral, qualquer que seja a natureza dos elementos que os compõe e as relações ou forças existentes entre eles.(Churchman-1968). O fenômeno da emergência é um fenômeno não teleológico, isto é, não é dirigido por um objetivo final ou também chamado de não teleológico.
1.3 – Primeiros Conceitos de Sistema Vimos que existem sistemas que podem emergir a partir de condições favoráveis (sistemas emergentes). Estes sistemas, embora sejam necessários para a sobrevivência da maioria dos seres vivos, não possuem uma função prática para computação. Para utilizá-los de forma prática, deveríamos construir modelos. O foco de nosso estudo são os sistemas teleológicos, ou seja. Sistemas que possuem um planejamento, que são dirigidos por um objetivo final ou por projeto. Pense na nossa existência sem as casas, o comércio, o transporte, a escola, etc. Não seria fácil sobreviver sem este cenário, seríamos ainda como “homens da caverna”, utilizando somente o que pudéssemos coletar na natureza. Os sistemas teleológicos são sistemas projetados, planejados e construídos para se obter algum objetivo específico. Se analisarmos algumas definições de sistemas encontraríamos o seguinte:
“Conjunto de princípios reunidos de modo a que formem um corpo de doutrina; combinação de partes coordenadas entre si e que concorrem para um resultado ou para formarem um conjunto;”
Esta definição encontrada no dicionário é bastante esclarecedora, mas vamos olhar uma outra que está bem mais próxima da nossa realidade de analistas. Sistemas, segundo a NBR 180 8402/1 994, 2.18, define como:
“Um conjunto integrado que consiste de um ou mais processos, hardware, software, recursos e pessoas, capaz de satisfazer uma necessidade ou objetivo definido”.
Segundo Dalfovo(2000) define-se sistema como sendo
“Um conjunto de partes interdependentes que forma um todo unitário e complexo.”
Estas últimas definições nos colocam mais próximos do foco de nossa formação, embora possamos usar tranquilamente a primeira. Para facilitar a nossa compreensão, vamos analisar as figuras.
Figura1.3 – Representação hierárquica de sistemas.
Note na representação da Figura1.3 que existem três camadas no sistema. Cada camada é composta de componentes que não possuam necessariamente a mesma estrutura ou funcionalidade, mas sim, componentes de mesmo nível que se organizam para formar um componente de nível superior. Considerando estas três camadas, podemos definir os componentes da camada central como componentes de sistemas. Cada elemento desta camada foi construído a partir de elementos hierárquicos de sub-sistemas e serão usados para construção de componentes da camada de super-sistemas. Note que os sistemas emergentes sempre se organizam de um nível mais baixo para um nível imediatamente superior, enquanto os sistemas teleológicos ocorrem de um nível superior para um outro nível imediatamente inferior, através de planejamento, projeto e desenvolvimento.
1.4 – Visão Sistêmica A visão sistêmica é muito importante para a percepção e o conhecimento dos sistemas como um todo. Sem a visão sistêmica não conseguiríamos enxergar além de um palmo dos nossos olhos. A visão sistêmica vem acompanhando o ser humano há muito tempo. Alguns povos antigos possuíam uma forte tendência em estudar fenômenos relacionados à natureza. Estes povos conheciam o movimento do sol e da lua, faziam previsões de eclipse e usavam tudo na agricultura e religião. Perceba que hoje é natural sabermos que a terra possui movimento de translação e rotação que permite que tenhamos dias e noites, estações do ano, mas pense, se você tivesse que perceber isto, como você o faria. Como você provaria estas teorias? Isto ocorre por causa do nosso tamanho. Estamos acostumados a enxergar as coisas como seres “grandes” e não nos adaptamos muito bem quando somos seres minúsculos. Se pudéssemos ver a
movimentação celestial através de uma mesa de laboratório, ou através da tela do nosso computador seria simples enxergar estes movimentos. Mas como fazê-lo sendo tão pequenos no universo? Precisamos de uma maneira, uma ferramenta, um modelo para ver e entender estes fenômenos.
1.5 – Visão Sistêmica e Cenários É muito importante termos a visão sistêmica anteriormente falada, a fim de podermos visualizar cenários para elaborarmos projetos de nossas ações futuras, evitando assim cairmos em situações de absoluta ingenuidade e produzirmos grandes fracassos.
Devemos buscar mecanismos, e criar ferramentas que nos possibilite enxergar todo o sistema. A parte visível, muitas vezes é a menos parte de um sistema. Temos vários exemplos de como uma visão sistêmica nos ajuda a enxergar coisas que até certo ponto não conseguíamos ver. Em 2003 pudemos assistir à invasão do Iraque pelos EUA. Todos nós vimos na mídia o bombardeio de informações não confirmadas e no final, pudemos constatar mais uma vez que os americanos manipulam a massa conforme sua vontade. Isto já havia acontecido na guerra contra o Vietnã.
Figura1.1 – Visão sistêmica, ver o iceberg todo.
Embora as vezes seja difícil, devemos procurar sempre ter uma visão mais ampla do que está ocorrendo. Isto é essencial na hora de planejarmos e projetarmos sistemas computacionais. Sempre iremos encontrar conjuntos de indícios que nos levaram a visualização de cenários. Tudo o que vamos fazer produzir ou consumir, exige a visualização de cenários. Para isto, temos que ter um conhecimento da história, dos paradigmas atuais, das tecnologias e de sua provável mudança e certa dose de “sorte”. Devemos sempre lembrar que recursos, financeiros, materiais e pessoais serão aplicados nos projetos. Na maioria das vezes estes recursos não são nossos, e contar somente com a sorte para acertar, seria no mínimo, um crime. É neste cenário que vemos a TGS, ela nos fornecerá um conjunto de ferramentas para nos auxiliar. Vale lembrar que tudo foi criado pela mente humana e que devemos sempre buscar a melhor ferramenta para cada situação. Existem duas formas de focarmos o conceito de sistemas.
• Enfoque cartesiano; • Enfoque sistêmico;
O enfoque cartesiano utiliza uma abordagem positivista, enquanto o enfoque sistêmico considera a totalidade, uma visão holística.
1.5.1 – Enfoque Cartesiano O Positivismo é uma corrente filosófica cujo iniciador principal foi Augusto Comte (1798-1857). Surgiu como desenvolvimento filosófico do Iluminismo, a que se associou a afirmação social das ciências experimentais. Propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente teologia ou metafísica. Assim, o Positivismo - em sua versão comtiana, pelo menos - associa uma interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a uma ética humana, desenvolvida na segunda fase da carreira de Comte. O antropólogo estrutural Edmund Leach descreveu o positivismo em 1966 na aula Henry Myers da seguinte forma: "Positivismo é visão de que o inquérito científico sério não deveria procurar causas últimas que derivem de alguma fonte externa, mas sim confinar-se ao estudo de relações existentes entre fatos que são diretamente acessíveis pela observação." Todavia, é importante notar que a palavra "Positivismo" não é unívoca, pois inúmeras correntes de outras disciplinas assumem o nome de "positivistas" sem guardarem nenhuma relação com a obra de Comte. Exemplo paradigmático disso é o Positivismo Jurídico, do austríaco Hans Kelsen e do italiano Norberto Bobbio. Neste artigo trataremos apenas e tão-somente do que se refere à obra de Augusto Comte, deixando de lado outras correntes, quer tenham o título de "positivistas", quer não tenham. O Positivismo fez grande sucesso na segunda metade do século XIX, mas, a partir da ação de grupos contrários (marxistas, comunistas, fascistas, reacionários, católicos, místicos), perdeu influência no século XX. Todavia, desde fins do século XX ele tem sido redescoberto e revalorizado como uma forma de perceber o homem e o mundo, a ciência e as relações sociais. É muito importante que nós, analistas de sistemas, percebamos que nem sempre o desenvolvimento científico-tecnológico gera diminuição nas desigualdades sociais, muitas vezes estas desigualdades são agravadas. A abordagem positivista não é adequada para nós, por não mostrar todas as possibilidades de interação dos produtos tecnológicos na vida das pessoas, justamente por não dar conta do sistema como um todo. 1.5.2 – Enfoque Sistêmico Focada na descoberta de características e princípios comuns a todos os sistemas, a TGS facilita o estudo de cada um destes sistemas por possuir um caráter interdisciplinar, visando a fusão de conceitos fragmentados pela separação do conhecimento. Para entendermos como esta visão sistêmica foi alcançada, vamos analisar cada um dos paradigmas a seguir. Antes vamos ver uma definição de paradigma: “Paradigma é a representação do padrão de modelos a serem seguidos. É um pressuposto filosófico, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.” 1.5.2.1 – Paradigma Escolástico
Paradigma baseado na subordinação da razão pela fé. Foi nessa época que surgiu a “Santa Inquisição”. Neste período o objetivo da ciência era mostrar a correlação entre a verdade do mundo físico e a verdade espiritual. O conhecimento era classificado e catalogado. O desenvolvimento científico só era reconhecido quando suportava a religião. Dica: Assista ao filme “O nome da rosa”
1.5.2.2 – Paradigma do Renascimento
O Renascimento está associado ao humanismo, o interesse crescente entre os acadêmicos europeus pelos textos clássicos, em latim e em grego, dos períodos anteriores ao triunfo do Cristianismo na cultura européia. No século XVI encontramos paralelamente ao interesse pela civilização clássica, um menosprezo pela Idade Média, associada a expressões como "barbarismo", "ignorância", "escuridão", "gótico", "noite de mil anos" ou "sombrio" (Bernard Cottret). O seguinte extracto de Pantagruel (1532), de Rabelais costuma ser citado para ilustrar o espírito do renascimento: “Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas: Grego, sem o conhecimento do qual é uma vergonha alguém chamar-se erudito, Hebraico, Caldeu, Latim (.) O mundo inteiro está cheio de académicos, pedagogos altamente cultivados, bibliotecas muito ricas, de tal modo que me parece que nem nos tempos de Platão, de Cícero ou Papinianus, o estudo era tão confortável como o que se vê a nossa volta. (.) Eu vejo que os ladrões de rua, os carrascos, os empregados do estábulo hoje em dia são mais eruditos do que os doutores e pregadores do meu tempo.” 1.5.2.3 – Mecanicismo e Determinismo
O mecanicismo é a teoria segundo a qual a realidade tem uma estrutura comparável à de uma máquina, que os fenômenos (incluindo os seres vivos) são susceptíveis de serem reduzidos a um sistema de determinismos mecânicos. Determinismo é a doutrina que afirma serem todos os acontecimentos, inclusive vontades e escolhas humanas, causados por acontecimentos anteriores, ou seja, o homem é fruto direto do meio. Segue-se que o ser humano seria destituído de liberdade de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte. O indivíduo faz exatamente aquilo que tinha de fazer e não poderia fazer outra coisa; a determinação de seus atos pertence à força de certas causas, externas e internas. É a principal base do conhecimento científico da Natureza, porque afirma a existência de relações fixas e necessárias entre os seres e fenômenos naturais: “o que acontece não poderia deixar de acontecer porque está ligado a causas anteriores”. A chuva e o raio não surgem por acaso; a semente não germina sem razão, etc.; há sempre acontecimentos prévios que preparam outros: chove porque houve primeiro evaporação, depois resfriamento e condensação do vapor; e assim por diante. Os mundos físico e biológico são, pois, regidos pelo determinismo - no nível macroscópico. A nível mental, também vigora o mesmo princípio, pois, os pensamentos têm uma causa, assim como as nossas ações, deles decorrentes; pensamentos e atos estão relacionados aos impulsos, traços de caráter e experiências que caracterizam a personalidade. A doutrina oposta é a do livre-arbítrio, que declara a vontade humana livre para tomar decisões e determinar suas ações. Diante de várias opções oferecidas por uma situação real, o homem poderia
escolher uma racionalmente e agir livremente de acordo com a escolha feita (ou não agir se o quisesse). Exige, portanto, capacidade de discernir e liberdade interior. O animal e o selvagem vêem as coisas em função da sua utilidade imediata na satisfação de instintos e impulsos primários; um pedaço de carne desperta interesse havendo fome para acalmar e só para esse fim. O civilizado, porém, percebe as coisas sob múltiplos aspectos; a carne poderia servir para alimentar a criação, ser examinada ao microscópio, fabricar ácidos aminados para a medicina usar, inspirar um drama ou poema, etc. Tem ele, conseqüentemente, de tornar uma decisão sobre a escolha a fazer. Podemos supô-lo livre para tanto, reconhecendo, contudo, que freqüentemente a condição mental do sujeito impõe restrições ao livre-arbítrio: irreflexão (impulsividade), hábitos fixos, inércia, imitação, moda, etc. Todavia, essas limitações não chegam a caçar a liberdade por completo nem eliminam a responsabilidade dos atos. Por ter de dormir três horas todas as tardes ou beber, ele sofrerá diminuição da liberdade de decisão e ação, mas é o dono desses hábitos e, daí, o responsável pelas conseqüências do que fizer. O aspecto essencial da questão consiste em saber se o sujeito, ao praticar a ação, era livre ou não para praticá-la, se há liberdade de escolha diante de várias possibilidades oferecidas por uma situação - ou se ele só poderia ter feito precisamente o que fez. O determinismo constitui um princípio da ciência experimental que se fundamenta através da possibilidade da busca das relações constantes entre os fenômenos. Os deterministas acreditam que todo efeito tem somente uma única causa e vice-versa. Uma bola de bilhar arremessada com determinada força e direção só poderá percorrer um único caminho que poderá ser traçado com perfeição se todas as variáveis puderem ser levadas em conta, portanto, seu comportamento é determinado pela ação que a causou. Assim, segundo o determinismo, você não pode optar por um sorvete de chocolate ou baunilha, o que ocorre é a ilusão de escolha. Seja qual for a opção que tomar, ela já estaria pré-determinada por toda a sua trajetória de vida e de toda a humanidade antes dela. O que acontece é que as variáveis envolvidas no ato tendem ao infinito, causando assim, a ilusão de livre-arbítrio ou escolha.
1.5.2.4 – Hegemonia do Determinismo
As idéias deterministas fizeram muito sucesso. A visão de que todo universo funcionava como um relógio estava firmada. O principio da casualidade cresce dentro das áreas cientificas: Todo efeito é precedido (e não seguido) por uma causa e o reducionismo também ganha espaço e caracteriza a hegemonia do determinismo. Reducionismo, em filosofia, é o nome dado a teorias correlatas que afirmam, grosso modo, que objetos, fenômenos, teorias e significados complexos podem ser sempre reduzidos, a fim de explicá-los, a suas partes constituintes mais simples. Reducionismo ontológico é a idéia de que tudo que existe é feito de um pequeno número de substâncias básicas que se comportam de forma regular.
Reducionismo metodológico é a idéia de que as explicações, como as científicas, devem ser continuamente reduzidas às entidades mais simples possíveis. A navalha de Occam é a base deste tipo de reducionismo. Reducionismo teórico é a idéia de que explicações ou teorias antigas não são geralmente substituídas por novas, e sim as novas teorias são refinamentos ou reduções mais detalhadas das antigas. Reducionismo científico: tem sido usado para descrever todas as idéias acima no que se refere à ciência, mas é mais frequentemente usado para descrever a idéia de que todos os fenômenos podem ser reduzidos a explicações científicas. Reducionismo lingüístico é a idéia de que tudo pode ser descrito em uma linguagem com um número limitado de conceitos básicos, e a combinação destes. O termo reducionismo ambicioso foi cunhado por Daniel Dennett para criticar as formas de reducionismo que tentam explicar muito com muito pouco. Reducionismo analítico denomina os a priori que subjazem no reducionismo ontológico. O oposto das idéias do reducionismo constitui o holismo: a idéia de que objetos, fenômenos, teorias e significados têm propriedades como um todo, que não são explicáveis a partir das propriedades de suas partes.
1.5.2.5 – Era da Relatividade e Mecânica Quântica
Dois golpes fortes foram dados nas idéias da era do determinismo. A teoria da Relatividade de Einstein e a Teoria Quântica. A relatividade especial, ou Teoria da Relatividade Especial é uma teoria publicada em 1905 por Albert Einstein. Ela trocou os conceitos independentes de espaço e tempo da Teoria de Newton pela idéia de espaço-tempo como uma entidade geométrica. O espaço-tempo na relatividade especial tem uma variedade de 4 dimensões, 1 temporal e 3 espaciais, nas quais noções de geometria podem ser utilizadas. Agora não podemos observar fatos sem levar em conta o tempo. Por exemplo, quando observamos uma estrela a cem anos luz da terra, o que vemos na verdade é a imagem que existia há cem anos atraz. O termo especial da teoria da relatividade é usado porque ela é um caso especial do princípio da relatividade onde efeitos da gravidade podem ser ignorados. Dez anos após a publicação da teoria especial, Einstein publicou a Teoria Geral da Relatividade, que incorpora os efeitos da gravitação. A Mecânica Quântica é a parte da física que estuda o estado de sistemas onde não valem os conceitos usuais na mecânica clássica tais como os de trajetória e o de distingüibilidade de partículas idênticas (aliás, ambos os conceitos são intimamente relacionados); usualmente estuda o movimento das partículas muito pequenas, ou seja, em nível microscópico. Entretanto, efeitos há que ocorrem a nível macroscópico. O conceito de partícula "muito pequena" , mesmo que de limites muito imprecisos, relaciona-se com as dimensões nas quais começam a ficar evidentes efeitos como a impossibilidade de conhecer com infinita acuidade e ao mesmo tempo a posição e a velocidade de uma partícula (leia sobre Princípio da incerteza de Heisenberg). Os ditos efeitos chamam-se "efeitos quânticos". Assim, a
Mecânica Quântica é a que descreve o movimento de sistemas nos quais os efeitos quânticos são relevantes. Experimentos mostram que sistemas quânticos são relevantes em escalas de até 1000 átomos. Entretanto, existem situações onde mesmo em escalas macroscópicas, os efeitos quânticos se fazem sentir de forma manifestamente clara, como nos casos da supercondutividade e da superfluidez. A escala que regula em geral a manifestação dos efeitos quânticos é o raio de Bohr (leia sobre Raio de Bohr). As leis da mecânica quântica surgem com auxilio da probabilidade, ao invés de certezas. Notou-se neste período que as várias disciplinas se desenvolvem de forma similar, ou seja, cada campo de conhecimento passa por estágios como;
A síntese é um pré requisito para o pensamento sistemico, justamente como era a análise para o mecanicismo. Um sistema, como representa um todo, perde suas propriedades sinergéticas se é decomposto, e não pode ser entendido apenas por análise. Uma sítese parte do todo para as partes, fazendo o caminho inverso da análise. O pensamento sistêmico expande o foco do observador, enquanto o pensamento analítico o reduz. Enquanto o pensamento analitico se concentra nas propriedades estáticas e estruturais, o pensamento sistêmico se concentra no comportamento a na função do sistema como um todo.
1.5.2.6 – Era de Sistemas
Com a introdução do computador, da exploração espacial e da bomba de hidrogênio, problemas em grande escala começaram a emergir. Alguns exemplos podem ser:
• Destruição ambiental e mudanças climáticas • Desmatamento e desertificação;
• Poluição; • Diminuição da camada de ozônio;
• Explosão populacional e criminalidade; • Urbanização, desemprego e miséria;
• Comércio e empobrecimento cultural; • Poluição visual, sonora e de dados;
Os sucessos das ciências nas últimas eras mostraram também a incapacidade de prever os problemas que surgiriam. Isso ocorre porque os detentores do conhecimento criaram ilhas de informações desconectadas, dificultando o acesso a essas informações. Após duras derrotas, foi aceito que um sistema não pode ser compreendido através de análise. A função (obtida através da síntese) é o ponto mais importante. Antigamente fazer coisas era mais importante do que pensar sobre elas. Um bom exemplo são os meios de transporte que utilizam combustível fóssil, resolvem vários problemas, mas podem ser o responsável pelo aquecimento global de proporções catastróficas.
O reducionismo entende que o todo pode ser quebrado ou analisados em suas partes separadas e as relações entre elas, o enfoque sistêmico mostrou que frequentemente o todo é maior do a soma de suas partes. As raízes da abordagem sistêmica foram formadas a partir do desenvolvimento da pesquisa operacional, disciplina emergente que auxiliou decisões estratégicas na segunda guerra, algumas linhas de pensamento foram:
9 Não é necessário entender tudo, mas manter sob controle.
9 Não colete mais informações que o necessário para o trabalho.
o Concentre-se nas principais conseqüências da tarefa, abandone detalhes.
9 Resolva os problemas de hoje.
o Pré-requisitos e soluções logo ficam obsoletas.
Para este avanço, a utilização do computador foi de fundamental importância. Com o computador foi possível a existência de uma realidade que não era nem real, e nem imaginária, uma realidade virtual, ou seja, uma realidade com existência simulada resultante de um computador. Com isso a TGS passou a auxiliar soluções através de sistemas generalistas e não mais especialistas. Sistemas que possuíam uma complexidade crescente e não sistemas estáticos. Isso faz com que o homem passe a ser considerado criador ao invés de descobridor. Tome como exemplo, simuladores, jogos, sistemas especialistas, são todos utilizados no desenvolvimento de sistemas. Sistemas complexos podem ser, então, estudados de vários pontos de vista. Cada ponto de vista vem complementar um outro, e não competir. Imagine criar uma cadeira em um software de modelagem. Com certeza, você precisará de várias visões desta cadeira, cada uma das visões, põe a mostra um detalhe que a outra esconde, e todas as visões juntas formam o objeto cadeira com a máxima realidade possível. Esta capacidade alcança qualquer tipo de sistema.
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